segunda-feira, 20 de junho de 2011

Para não dizer que não falamos das cores

Readaptado de publicação originalmente postada no blog 

Por Welber Santos

Quando se pesquisa sobre algo que entrou na casa de centena de anos tprna-se um pouco complicado para saber informações sobre as cores, quando não há acesso a documentos escritos ou a desenhos referentes ao objeto pesquisado.
Este é o caso dos curiosos que inveredam sobre a reconstituição imagética de um patrimônio de 130 anos.
A E. F. Oeste de Minas costumava, como era comum nos tempos de tração a vapor, utilizar a cor verde como elemento do esquema de cores de suas locomotivas. O fato é que as fotografias que possuímos do período em que essa era a razão social da estrada (1880-1931) são anteriores à chegada ao público dos negativos em cores (1836). Aliás, mesmo para a década de 1960 era ainda bastante raro a utilização da fotografia a cores devido ao seu alto custo.
No esforço de reconstituir o esquema de cores histórico das locomotivas da ferrovia que nos é  aqui apresentada, cruzamos uma fotografia de fábrica de 1911 e as cores apresentadas pela única locomotiva que permaneceu, bem ou mal, com resquícios das cores apresentadas ainda na década de 1920.
Entretanto, nos últimos meses nos foi apresentada a coleção de documentos da The Baldwin Locomotive Works, as fichas de encomenda de locomotivas a partir de 1869. E foi a partir das fichas das locomotivas da Oeste de Minas da Classe 10-18-D, exatamente as ten-wheeler de 1911 e 1912, que ora vos apresentamos a reconstituição cromática da pintura original.

Especificações para as locomotivas Classe 10 18 D de 1911, originais EFOM de 39 a 41, atuais RFFSA/IPHAN 37 e 38 (a 39 foi sucateada em 1979). Fonte: Railways and Railroads: Photographs, Manuscripts and Imprints. Baldwin Locomotive Works, Engine Specifications, 1869-1938. DeGolyer Library, Southern Methodist University. Dallas, Texas.

 Foto de fábrica da locomotiva ten-wheeler (4-6-0) RFFSA/SR-2 37 (EFOM 39, EFOM 107, RMV-Oeste 107, RMV 37, VFCO 37), BLW 37082. Foto de Baldwin Locomotive Works)

Locomotiva American Standard (4-4-0) EFOM 1 (RMV 1), preservada com as mesmas cores desde a década de 1920. Foto de Jonas Augusto de Carvalho.

Locomotiva ten-wheeler RMV-Oeste 111 (EFOM 43, EFOM 111, RMV-Oeste 111, RMV 41, VFCO 41, RFFSA-SR2 41). Acervo NEOM-ABPF.

O resultado do casamento das imagens está nos seguintes quadros:


Quadro esquemático das transformações visuais da locomotiva ten-wheeler EFOM 43 (EFOM 111, RMV-Oeste 111, RMV 41, VFCO 41, RFFSA/SR-2 41). Desenho de Jonas Augusto de Carvalho.

No esquema original de cores, tínhamos a predominância do preto, com "quadros" de fundo verde, linhas exteriores, números e logomarca em dourado, e linhas interiores, mais finas e paralelas às douradas em vermelho.
Quadro esquemático de duas fases visuais da locomotiva ten-wheeler EFOM 39 (EFOM 107, RMV-Oeste 107, RMV 37, VFCO 37, RFFSA/SR-2 37). Desenho de Jonas Augusto de Carvalho.

Aí o leitor se pergunta: para que diabos esses malucos querem saber disso?
Diríamos que a memória é matéria prima da História, e entender o processo de mudança visual das ferrovias é também vislumbrar como se deu o processo de transformação/formação de determinadas instituições. Além disso, como patrimônio nacional tombado que é o remanescente da Estrada de Ferro Oeste de Minas, poderemos, assim que possível, refazer visualmente, nas próprias locomotivas, carros e vagões, um pouco do que cada um desses bens móveis já foram em períodos difetentes da História da estrada de ferro que por tantas administrações diferentes passou; de companhia de capital privado em 1877 a ferrovia estatal a partir de 1903 até 1996, entre administrações federais (1903-1931/1953-1996) e estadual (1931-1953).
Não podemos esquecer dos colegas ferreomodelistas, muito interessados em "detalhes sórdidos" como esses.





Reconstituição do esquema de cores realizada por Jonas Augusto.