quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Locomotivas “Vauclain Compound” na E.F.O.M.

Por: Jonas Augusto Martins de Carvalho


A Estrada de Ferro Oeste de Minas – E.F.O.M. possuiu ao todo 60 locom
otivas na bitola de 0,76m, sendo 23 4-4-0's das quais apenas uma não era Baldwin, tendo sido fabricada pela própria E.F.O.M., 15 4-6-0's todas Baldwin e 22 2-8-0's, sendo 3 ALCO, uma fabricada pela E.F.O.M. e as demais Baldwin.

O prolongamento da E.F.O.M. além de Divinópolis, levou a diretoria da Estrada a adquirir locomotivas Baldwin do sistema Vauclain Compound devido à economia de combustível que esse sistema representava. Adquriu-se então 20 Vauclain Compound entre 1891 e 1894. Ao que parece, elas não foram totalmente satisfatórias, o que se comprova no fato das diversas modificações realizadas nestas locomotivas. 


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Locomotiva n°17. (Baldwin nº11594 de deze mbro de 1891) A primeira Vauclain Compound da E.F.O.M.. Foto: Baldwin Locomotive Works - Acervo ABPF/NEOM

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A número 17 (futura RMV 16), uma 4-4-0, com cilindros H.P. de 7” e cilindros L.P. de 12” e a número 18 (futura RMV 15), uma 4-6-0 com cilindros H.P. de 71 / 2” e cilindros L.P. de 12” compradas em 1891 foram as pioneiras. A 18 foi a única Vauclain Compound 4-6-0 comprada e em 1922 seus cilindros já tinham sido modificados para 7” e 13”, aumentando o seu coeficiente de expansão de 2,56 para 3,45, o que conseqüentemente alterou o equilíbrio das forças na cruzeta. A 4-4-0, com um coeficiente de expansão de 2,94 deve ter sido mais satisfatória e mais 3 foram compradas em 1892 e 1894 e sobreviveram, pelo menos até 1922 sem modificações. Ainda na década de 1920/1930 todas foram transformadas em simples expansão.


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Locomotiva n°18. A única 4-6-0 Vauclain Compound da E.F.O.M.. Posteriormante esta locomotiva foi transformada em 4-4-0 de simples expansão e recebeu o número 15. Foto: Baldwin Locomotive Works - Acervo ABPF/NEOM

Apesar dos aparentes problemas com a n° 18, três 4-4-0 foram adquiridas ainda em 1892, com cilindros H.P. de71 / 2” e cilindros L.P. de 12”,não sendo mais bem sucedidas do que a 4-6-0 cujos cilindros originais eram idênticos. Diante da deficiência no parque de tração da bitola métrica, em 1905 duas dessas locomotivas, as nº20 e nº 22, foram convertidas para bitola de 1m e simples expansão, recebendo os números 2 e 6 respectivamente e, a terceira teve seus cilindros modificados para 7” e 13”, como a 4-6-0. Esta locomotiva também foi transformada em simples expansão posteriormente.
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Locomotiva n°29. Representante do lote de locomotivas 2-8-0 Vauclain Compound adquiridas em 1893. Posteriormente renumerada com nº208 e finalmente como nº58. Após anos de pesquisa, nenhuma fotografia destas locomotivas em sua condição original foi encontrada, restando-nos então desenhá-la conforme informações e fotografias de outras locomotivas. Desenho: Jonas Augusto - ABPF/NEOM

Ainda em 1892 foram compradas seis 2-8-0 Vauclain Compound com cilindros H.P. de 8” e cilindros L.P. de 14”. Mais quatro foram compradas em 1893. Estas também não parecem ter sido totalmente satisfatórias, sendo que duas 2-8-0 foram compradas em 1894 com cilindros H.P. de 9” e cilindros L.P. de 15”, reduzindo a taxa de expansão de 3,06 para 2,78. Uma das 2-8-0 anteriores, mais tarde, teve seus cilindros L.P. aumentados para 15”, aumentando a taxa de expansão para 3,52.





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Locomotiva nº 24, futura nº204, por fim nº54. (Baldwin nº12637 de abril de 1892) originalmente Vauclain Compound, nesta foto de 1910 já aparece transformada em simples expanção. Foi baixada na década de 1960 em Divinópolis. Foto: André Bello - Acervo ABPF/NEOM

Para o funcionamento correto da cruzeta sobre os paralelos, é necessário que as forças aplicadas pelos dois cilindros sejam o mais iguais possível, o que entretanto não acontecia na prática. Essa diferença de esforço realizado pelos cilindros acarretava em um desgaste desigual da cruzeta, o que levava a locomotiva freqüentemente às oficinas. Outro aspecto negativo era a complexidade do conjunto de válvula e da válvula auxiliar de partida, o que também levava a um aumento dos custos de manutenção, resultando na anulação da economia obtida com o uso mais racional de combustível, ou seja, o custo de manutenção era mais elevado do que a economia que o sistema proporcionava em termos de uso de combustível.



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Locomotiva nº 12. (Baldwin nº12660 de maio de 1892) originalmente Vauclain Compound, nesta foto de 1935 já aparece transformada em simples expansão. Foto: Acervo ABPF/NEOM

Em 1922, sete das doze Vauclain Compound 2-8-0 já tinham sido convertidas em locomotivas de simples expansão com cilindros de 13” padrão, como as novas 2-8-0's de simples expansão que tinham sido adquiridas. A locomotiva nº55 (antiga 26) possui uma placa em seus cilindros de simples expansão onde lê-se"Modificada, Divinópolis, junho de 1931" e a nº58 “Modificada na Officina Divinópolis 31-10-1937”.
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Locomotiva nº16. Fim da linha para a primeira locomotiva Vauclain Compound da E.F.O.M.. Nesta foto do início dos anos 1970 a locomotiva 16 (original 17) aparece na famigerada linha da morte no pátio da estação de São João del-Rei. Pode-se observar o cilindro de simples expansão. Foto: Benito Mussolini

A única locomotiva que permaneceu Vauclain Compound de que se tem notícia é a nº 71, uma 2-8-0 de 1894. Ela teria sido mantida na configuração original para tracionar o trem especial de lenha, uma composição pesada que percorria uma longa distância, uma vez que a lenha era extraída na região de Barra do Paraopeba tendo como destino os depósitos, como Divinópolis, Aureliano Mourão, São João del-Rei entre outros. Justamente pela principal característica do sistema Vauclain ser a economia de combustível, nada mais plausível do que utilizar uma locomotiva deste tipo para realizar um trajeto tão longo e com uma grande lotação. Na década de 1960, como praticamente todas as locomotivas já haviam sido convertidas para queima de óleo, a nº71 perdeu sua principal função, sendo sucateada nos anos seguintes.

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Locomotiva nº 71. Após anos de pesquisa, esta foto bem desgastada pelo tempo, tirada no final da década de 1940 é a única encontrada desta locomotiva. Pode-se observar os cilindros Vauclain Compound originais, bem como a distribuição interna. Nesta época, as demais Vauclain já haviam sido transformadas em simples expansão.Foto: Acervo ABPF/NEOM

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Hoje, nenhuma das locomotivas compound sobreviveu em sua configuração original, inclusive com a distribuição interna modificada para distribuição Walschearts. Na década de 1920 e 1930, as locomotivas foram reconstruídas em Divinópolis em um padrão comum de simples expansão, sendo que algumas receberam também a distribuição externa. As locomotivas 12, 13, 14, 15, 16, 17, 53, 54, 56, 57, 59 e 61 permaneceram com a distribuição interna até suas baixas.

4 comentários:

  1. Meu tio trabalhou como foguista na RMV 71. Segundo o mesmo, o maquinista costumava fazer contra-vapor em declives por malandragem, para quebrar o frágil mecanismo da distribuição Stephenson, conjugado com a parafernalha dos cilindros Vauclain. A loco quebrava e os bonitões tinham uma folga forçada.

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  2. Aquela foto da Nº71 não é a única que existe, tem uma do final dos anos 1930 em que há soldados sobre a locomotiva, voce pode distingir o número no areieiro dela, breve eu vou postar alguma coisa sobre ela no ferroviamineira.blogspot.com,meu portal da EFOM.

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  3. Sr. do portal, a 71 foi a única VC da Oeste de Minas não convertida em simples expansão nas oficinas de Divinópolis. A foto a qual o sr. se refere é exatamente esta locomotiva porque já é 2ª Guerra.

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  4. Olha, interessante, muito bom, instrutivo e que nos dão informações valiosas, aliás são dois senhores, jovens, bem instruídos e informados no ramo ferroviário, pesquisadores e estudiosos, louvados sejam por nos lembrar a respeito dessas locomotivas e de tantas outras passagens na história das nossas estradas de ferro. Obrigado e, por favor continuem assim. Waldir alves

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