segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Engenheiro Hermillo Alves

Este artigo é de autoria do Eng. Marcelo Teodoro de Oliveira
Leitor deste blog que gentilmente o cedeu para publicação 
 
 
 
Hermillo Candido da Costa Alves (* 1842 Salvador, BA + 1906 Cruzeiro, SP)

Foi “o maior furador de picadas ferroviárias, um verdadeiro recordista”, nas palavras de Ademar Benévolo¹.

 Formou-se engenheiro civil pela Escola Central do Rio de Janeiro, depois Escola Polytechnica, e um
de seus primeiros trabalhos foi a exploração da Serra da Mantiqueira para o traçado do prolongamento da E. F. D. Pedro II. Em 1.875 e 1.876, contratado pelo Governo Imperial por ordem do Conselheiro Costa Pereira, dirigiu os trabalhos de exploração do traçado de uma estrada de ferro que partiria de Victoria, ES, e terminaria no município do Serro, MG (Diamantina), passando por Natividade (atual Aimorés, MG), às margens do Rio Doce (trecho este com cerca de 207km), embrião da futura Estrada de Ferro Vitória a Minas. Em sua exploração, lamentou: “A vizinhança dos índios botocudos e a lembrança do bárbaro assassinato do laborioso cidadão Avelino dos Santos França Leite², praticado por aqueles canibais em 1860, afugentaram os pretendentes aos lotes de terras que eram oferecidos por preço excessivamente reduzido”. Esta iniciativa do governo central diferenciou-se das iniciativas privadas, que priorizavam o sul cafeeiro e agrário da província do Espírito Santo. Apresentou seu relatório sobre estes estudos em 25/08/1.876 ao Exm. Sr. Conselheiro Thomaz Coelho.


Trecho da E.F. Victoria a Diamantina, entre Victoria e Natividade
(fonte: ALVES)

Em seguida à exploração no Espírito Santo, tomou parte em inúmeros estudos, projetos e construções de estradas de ferro, nas províncias/estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, locais onde desempenhou várias comissões e dirigiu diversas empresas como engenheiro.

Em 24/12/1.880 esteve presente, juntamente com outros 50 engenheiros e industriais, à reunião com o fim de instalar-se uma associação, que foi denominada Club de Engenharia.

De 1.880 a 1.882 encontrava-se em Alagoas, oferecendo seus préstimos à Alagoas Railway Company, Limited. Escreveu “Breve Noticia sobre a Provincia das Alagoas e memoria Justificativa dos Planos organisados pelo engenheiro Hermillo Alves e apresentados ao Governo Imperial: para a construcção da Estrada de Ferro Central da mesma Provincia pelos empresarios Manoel Joaquim da Silva Leão³ e Domingos Moitinho4 ”. A estrada de ferro ligaria Maceió à Villa Nova da Imperatriz, atual União dos Palmares, e foi concedida por meio do Decreto nº 7.895 de 12/11/1.880.

Foi engenheiro da Estrada de Ferro Oeste de Minas, tendo fiscalizado no período de 1.886 a 1.889 as obras do prolongamento de São João d’El-Rey até Oliveira e do ramal do Rio Grande (até a barra do Ribeirão Vermelho). Em fins de 1.892, pediu e obteve exoneração do lugar de engenheiro-chefe da construção da Oeste de Minas.

Em 1.889, em sociedade com Augusto Carlos da Silva Telles, realizou os trabalhos de campo completos para a ferrovia que iria de Benevente (atual Anchieta, ES) a Santa Luzia do Carangola (atual Carangola, MG), cuja concessão havia sido autorizada a Augusto Carlos pelo Decreto nº 9.362 de 17/01/1.885. Essa estrada, com privilégio de 60 anos, atravessaria uma promissora região ainda desprovida de meios de transporte e onde prosperava a lavoura de café, e teria raio mínimo de 100m e declividade máxima de 3%, com bitola de 1m. O privilégio foi elevado a 90 anos pelo Decreto nº 9.507 de 17/10/1.885. O traçado da E. F. de Santa Luzia foi modificado pelo Decreto nº 10.120 de 15/12/1.888, partindo de Santa Luzia, passando por Cachoeiro do Itapemirim e servindo a ex-colônia do Rio Novo5 , indo entroncar-se na E. F. de Victoria a Santa Cruz do Rio Pardo (atual Iúna, ES) na seção Mathilde da ex-colônia do Castello, a 80km de Victoria. Pelo mesmo decreto foi concedida garantia de juros de 6% ao ano. O Decreto nº 10.213 de 23/03/1.889 autorizou novamente um ramal para o porto de Benevente. Em 02/05/1.889 a concessão foi transferida para a Société Anonyme du Chemin de Fer Espirito Santo-Minas, depois Société Anonyme du Chemin de Fer de Benevente-Minas, que teve seus estatutos aprovados pelo Decreto nº 10.337 de 06/09/1.889. Em 17/03/1.890 o governo prorrogou o prazo para apresentação dos estudos definitivos, através do Decreto nº 270, e a 12/07/1.890 teve prorrogação do prazo para início da construção prorrogado até Outubro daquele ano. Em 18/09/1.890 essa companhia transferiu a concessão para a Companhia Geral de Estradas de Ferro no Brazil, que controlava a Leopoldina. Essa estrada não se realizou, mas alguns de seus trechos foram depois executados pela Leopoldina.

Hermillo Alves também atuou com abnegação nos serviços para o primeiro sistema de abastecimento de água potável de São João d’El-Rey.

Em Agosto/1.891 requereu ao governo de Minas Geraes, juntamente com o dr. Herculano Castanheiro e Cicero Ferreira, privilégio para a construção de uma estrada de ferro do Taboleiro Grande6  à Paracatú e às divisas de Goyaz (um outro traçado do que seria a futura Estrada de Ferro Paracatú).

De 1.894 a 1.897 foi primeiro engenheiro da Comissão Construtora da Nova Capital – CCNC de Minas Geraes, futura Bello Horisonte. Chefiou a Terceira Divisão – Escritório Técnico.

  A CCNC em 1.895, com a planta da Cidade de Minas nas mãos de Aarão Reis.

Organizou, juntamente com Pandiá Calógeras e Júlio Horta Barbosa, o plano de viação férrea de Minas Geraes.

Trabalhou na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, onde exerceu a função de 1º engenheiro da Seção de Construção, subordinada a um Inspector Geral e sob a direção imediata do Chefe dr. Alberto de Mendonça Moreira, e, já idoso, foi chefe do prolongamento da E. F. Sorocabana, tendo falecido de moléstia contraída na exploração da linha de Itararé.

Escreveu, dentre outros trabalhos:

- “Estrada de Ferro da Victoria para Minas: Relatório Apresentado ao Ministro da Agricultura, etc., conselheiro Thomaz José Coelho de Almeida”. Rio de Janeiro, 1.876, 112p.; este foi o primeiro estudo sobre aquela futura ferrovia;

- “Breve Noticia Sobre a Provincia de Alagôas, e Memoria Justificativa dos Planos Organisados pelo Engenheiro Hermillo Alves, Apresentados ao Governo para a Construcção da Estrada de Ferro Central da Mesma Provincia, etc.”, Rio de Janeiro, 1.880, 141p.; trabalho acompanhado de uma planta litografada, no mesmo ano, na escala 1:100.000, do traçado da linha projetada, e um diagrama das distâncias retilíneas entre Garanhuns e Canhotinho, e Maceió e Recife, na época em que o autor dirigia aquela Viação Férrea;

- “Noticia Geral”, 1.887;

- “O problema da viação ferrea para o estado de Matto Grosso”, 1.904.


Homenageado como nome de rua em São João d’El-Rey e Belo Horizonte, e de uma antiga estação da Central do Brasil, hoje Distrito no município de Carandaí, MG.

Notas:
1 BENÉVOLO, Ademar. Introdução à história ferroviária do Brasil. Estudo social, político e histórico. Recife: Edições Folha da Manhã, 1953.
2  Filho de Nicolao Rodrigues dos Santos França Leite, cidadão que, em 1.856, assinou contrato com o governo imperial para criar núcleos de colonização nas margens do Rio Doce, em troca de concessão de terras, e que foi o primeiro a navegar aquele rio num veleiro de 38 toneladas. Os lotes de terras mencionados ficavam na Francilvania, indicada no mapa.
3 Manoel Joaquim da Silva Leão (* Setubal, PT + 1.881 Alagoas) estabeleceu-se em Maceió nos tempos em que a Província achava-se em grande atraso, conseguindo por seu grande gênio ativo e esclarecida inteligência grandes melhoramentos para Maceió, desenvolvendo o seu comércio de secos e molhados e relacionando-o diretamente com as praças da Europa. À sua atividade deve Alagoas a linhas dos carros urbanos na capital, a navegação a vapor dos lagos, a estrada de ferro do Jaraguá, a cidade da Usina e devido ainda a seus esforços é que a Companhia Southampton principiou a fazer escala em Jaraguá, uma vez por mês. Era proprietário dos engenhos Utinga, Officinas e Boa Paz. Sua filha Amália do Amorim Leão (* 11/06/1.861) casou-se em 19/01/1.884 com Claudio Burle Dubeaux, filho de Josephina Burle, que era tia-avó de Roberto Burle Marx. Em 1.893, Claudio Burle e os cunhados transformaram o Engenho Utinga na Usina Leão, que existe até hoje.
4 O comendador Domingos Moitinho (+ 1.918) foi acionista da Companhia Locomotora, presidente da Companhia de Carris Urbanos de Nictheroy, concessionário das Companhia Melhoramentos de Santos, Estrada de Ferro Teresópolis, Estrada de Ferro Bananal, e de engenhos em Pernambuco, diretor e acionista da Companhia Geral de Estradas de Ferro no Brazil, presidente da Companhia Fabrica de Fiação e Tecidos Industria Magéense, presidente do Banco do Povo, fundador da Sociedade Torrens, etc. Foi ele que doou o prédio da estação do Bananal àquela ferrovia. Adquiriu a Fazenda do Resgate, no vale do Paraíba, em 1.891, que pertencera ao comendador Manoel de Aguiar Valim.
5 Inicialmente, Rio Novo fora estabelecida como uma colônia privada do ex-traficante de escravos Caetano Dias da Silva, que para lá levou alguns imigrantes chineses. Para a colônia foram também imigrantes portugueses e franceses e, mais tarde, suíços, holandeses e belgas.
6 O lugar denominado Nossa Senhora do Taboleiro Grande atualmente é a cidade de Paraopeba, MG, às margens do rio homônimo e próxima à antiga linha da Central do Brazil, que na época se encontrava em Sabará e rumava para Curvelo.

Fontes:
FISCHER, Georg. Imigrantes de língua alemã e as visões do paraíso da elite capixaba (1847-1862). 2008.
COMPANHIA PAULISTA DE VIAS FERREAS E FLUVIAES. Relatório nº 52 da Directoria da Companhia Paulista de Vias Ferreas e Fluviaes para a Sessão da Assembléa Geral em 30 de Junho de 1901. 1901. São Paulo. Typographia a Vapor de Vanorden & Cia.
Revista de Engenharia (diversos volumes)
Revista de Estradas de Ferro (diversos volumes)
Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas, disponível em http://www.comissaoconstrutora.pbh.gov.br/default.htm